José Horta Manzano
Faz trinta anos, o mundo se encantou ao saber que, com a libertação de Nelson Mandela, o temido banho de sangue na antiga União Sul-Africana (hoje República da África do Sul) poderia ser evitado.
Por décadas, temeu-se que o país fosse sacudido por longa e cruenta guerra civil assim que estourasse o barril de pólvora armado pela longeva política de apartheid (=segregação racial).
De fato, com sabedoria e sorriso cativante, o velho guerreiro soube apaziguar a nação. A violência ainda castiga o país, desta vez gerada pela gritante desigualdade entre ricaços e miseráveis – igualzinho a um país que nos é muito conhecido…
A libertação de Mandela, ou seja, o momento em que o carcereiro abriu a cela e disse a ele que podia ir embora, foi rápida. Durou o tempo necessário para as formalidades se cumprirem. Ao atravessar o portal da prisão, Mandela estava livre e a libertação estava completa. Não faz sentido dizer hoje que ela «completa 30 anos», como escreveu o estagiário do Estadão. Ela completou-se no momento em que o encarcerado assinou o livro de saída.
Se faltasse um argumento, há que ter em mente que o velho guerreiro já faleceu. Dizer que sua libertação completa 30 anos equivale a afirmar que, após sua morte, algo ficou ainda em aberto, a ser completado. Não é assim. A libertação completou-se no dia em que ele saiu da cadeia.
Da Operação Lava a Jato, que ainda não terminou, pode-se dizer que está completando 6 anos. A partir do dia em que terminar, não se deve mais usar o verbo completar. Diremos então: durou, levou, se estendeu por. Há muitos outros modos de formar a frase.
Quanto à chamada do jornal, melhor será dizer que a libertação ocorreu 30 anos atrás.